sábado, 30 de agosto de 2008

Falta muito pro Natal...


Olha só, eu sou uma pessoa produtiva, gosto muito de trabalhar e costumo fazer quinze mil coisas ao mesmo tempo e o pior, gosto disso! Mas esse ano tá difícil de levar! E aí, pra quem é professor vem a pergunta que não quer calar e pulsa no mais íntimo do meu ser docente...Falta muito pro Natal!!!!

Por favor, diz que não!!!!

Eu já estou um caco!!! No limite das minhas forças!!! O ano não acaba e o trabalho só aumenta!!! Nem pintar que é algo pelo qual tenho um prazer incrível eu tenho conseguido fazer. Dias nebulosos se aproximam.

Mesmo questões que motivam o meu humor sagaz...assuntos profundos que gosto de discutir com o Ricardo, como, pra onde vão uma das meias do par no inverno (e não diga que isso só acontece comigo...ou você também não perde só um par da meia e, embora a sua casa seja um ovo e ninguém entre lá além de você e seu marido/esposa, você nunca sabe onde as meias foram parar); ou ainda por que a batata do outro é sempre mais gostosa que a sua, ou, por que a fila que não anda é aquela em que você entrou. Enfim assuntos de profundo interesse científico, que são sempre abordados em momentos de profundo questionamento existencial e investigados a exaustão.

Óbvio que são assuntos importantes e amplamente investigados. E isso se comprova na prática! Como? Vamos lá:

  • Eu nunca deixei de comprar pares meias, embora eu saiba que uma inevitavelmente migrará para Shangrilá (e quem não viu o filme, não está perdendo nada). E, ainda assim elas continuam sumindo – isso comprova o que fenômeno do buraco negro pode acontecer em qualquer lugar, até mesmo na sua gaveta ou lavadora;

  • Quando a inveja da batatinha do vizinho se torna irresistível existe sempre a possibilidade de troca afinal de contas, ele vai dizer que a sua está muito melhor que a dele...por sorte, a batatinha quase sempre é a do meu marido e como ele sempre quer trocar, as evidencias falam por si só! (ou ele não é louco de dizer que não – também é uma possibilidade que pode ser levada em consideração, afinal de contas, nunca se sabe quando uma mulher está na TPM);

  • E a fila...bem, para essa comprovação científica muitos pesquisadores ainda continuam trabalhando, muitos dados vem sendo coletados, mas ninguém chegou a uma conclusão fixa a respeito e o colegiado de Oxford (porque é sempre lá que se estudam as coisas inúteis, já perceberam! Apesar desse não ser um estudo inútil, claro!) vem se reunindo diariamente em busca de dados mais concretos a respeito do assunto.

Bem, apesar de todas essas preocupações absolutamente necessárias para a existência humana com o qual eu me envolvo, apesar de trabalhar nas quinhentas escolas em cinco turnos e ainda fazer turnê com a Madonna...e o pior, gostar de fazer tudo isso! Bem, ainda assim ,eu estou um caco! E não é pelo excesso de atividades, porque eu sempre fiz isso e o que cansa mais, não é trabalhar, mas trabalhar nas condições absurdas em que os professores trabalham.

É perceber que o seu aluno não tem a educação básica, aquela que vem de casa: a do, por favor, com licença e obrigado que a sua mãe cobrava de você quando existia a educação doméstica. É ouvir dos seus superiores que professores são preguiçosos e não querem trabalhar embora VOCÊ vá para o front todos os dias e não eles. É ver a mídia dizer que professores fazem greve e deixam alunos sem aula e não que professores recebem uma miséria, são agredidos verbal e fisicamente em sala de aula e reivindicam reajuste salarial mais do que justo para a categoria. É receber pai de aluno querendo saber por que o filho tirou 1 na prova quando na verdade o sujeito merecia era -1 e trabalhos forçados.

Isso é o que cansa, e por mais bom humor e otimismo que se tenha, por mais que envolver-se com outras atividades seja terapêutico e gratificante, dar murro em ponta de faca ou nadar contra a maré e exaustivo!!! E quando chega essa época do ano o bom humor já está indo pro espaço, o cansaço toma conta, e aí, só me resta a pergunta...Falta muito pro Natal?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

O amor é o objetivo último de quase toda preocupação humana

Sou péssima em estabelecer rotinas, por isso demoro tanto em publicar os posts aqui, começo a escrever aí canso e largo pra lá; quando retorno aquilo que eu estava escrevendo vira outra coisa e aí eu tenho que começar tudo de novo!!! Tá, e porque você não escreve direto no blog como todos os “normais”...simples...meu computador é neurótico e tirano, se eu não faço o que ele quer ele manda meus textos para a arena ou a guilhotina...isso...a guilhotina é uma ótima ilustração!!!!Ele corta a cabeça dos meus textos como Henrique VIII cortou a cabeça de Ana Bolena...Aliás, para um próximo post eu tenho um livro excelente para recomendar...A Irmã de Ana Bolena...mas fica para a próxima!

Sei que tenho sido muito sentimental nos texto que tenho publicado aqui, mas isso tem haver com um passado que eu preciso resgatar, então confesso que isso tudo tem servido como terapia, algo catártico e que eu tinha que resolver.

Não posso dizer que tive uma vida difícil como alguns se orgulham tanto em dizer. Na verdade a minha vida sempre foi bem tranqüila em comparação com o que muitos alegam ter vivido...mas eu era uma pessoa difícil...imatura...e, digamos que relativamente inteligente (relativamente porque hoje eu sei que por melhor que eu seja existe gente muito melhor que eu e vai continuar existindo por melhor que eu seja – É a vida ! – Mas hoje pelo menos eu tenho a humildade de reconhecer isso) o que pode ser uma combinação realmente complicada!!!

Como já relatado aqui antes, nesse processo perdi e resgatei pessoas, ou perdi e não resgatei...algumas situações não se resolvem com um simples sinto muito. Aprendi suave ou duramente, dependeu do acontecido, das circunstancias. Usei, fui usada – e definitivamente isso não é legal! Amei, fui descartada...enfim, cresci e tenho crescido.

O melhor de tudo é quando crescemos tendo noção exata desse processo. Quando algo acontece, ao invés de espernear e dizer: não quero e não vou; penso, reflito bem e digo: tá legal, isso não é o que eu tinha planejado, não é bem assim que eu quero...mas vamos lá...o máximo que pode acontecer é ter que voltar duas ou três casas, ou ter que fica parada uma rodada, mas e daí? No jogo que eu jogo, o importante é jogar e não chegar primeiro. E, vai que derrepente a maré vira...tudo pode acontecer! Eu tenho um aliado poderoso do meu lado...o mais poderoso de todos e tenho a certeza absoluta de que nada acontece sem a permissão dele, então qual a problema de parar, pensar e prestar atenção.

Não vou dizer que seja fácil, não é, é muito difícil! Mas possui menos contra-indicação que agir pensando só em você e nos seus propósitos. O casamento me ensinou muita coisa e pensar no outro ante de agir foi uma das principais lições. Porque quando o contrário acontece, do outro fazer algo pensando só em si mesmo é muito ruim. Deixa-se de ser uma equipe pra atuar sozinho, por sua própria conta e risco! E se tudo der errado, a culpa é sua e só sua, afinal de contas a decisão foi sua, só sua e não da equipe, então, quem arca com os riscos?

E mais uma vez Schopenhauer tinha razão:

"O amor é o objetivo último de quase toda preocupação humana; é por isso que ele influencia nos assuntos mais relevantes, interrompe as tarefas mais sérias e por vezes desorienta as cabeças mais geniais".

domingo, 10 de agosto de 2008

John Dewey

As we manipulate, we touch and feel, as we look, we see;as we listen, we hear.

John Dewey

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Eu amo Elisa Lucinda

Eu amo a Elisa Lucinda...e o trabalho dela!

Não amo a pessoa que me apresentou a poesia dela – sujeitinho sem caráter e ladrão de idéias ( se é que não fica muito politicamente incorreto chamar alguém de ladrão assim... publicamente, se bem que nomes não foram citados, ainda...) porém, os fins justificam os meios e na época eu não sabia que ele era assim (se bem que ele sempre foi um cara muito ESQUISITO, se é que vocês me entendem...ai, que vontade de colocar o nome do safado na roda...mas deixa isso pra depois...)

A primeira vez que fui apresentada a uma apresentação dela...redundante, eu sei, mas é para soar assim mesmo...eu sai deslumbrada com aquela mulher linda e com uma presença de palco que coloca muito ator no chinelo (incluindo meu COLEGUINHA em questão...as pistas estão no ar hein!!!), recitando poesia de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Era uma coisa performática sem parecer piegas, coisa difícil quando se fala em poesia. Você ler é uma coisa, agora ter que ouvir alguém lendo pra você, vamos combinar que é um tanto deprimente! Aquela entonação cafona no ar é demais pra mim!

Confesso que compareci meio que com o pé atrás na apresentação – mas como era “free” e, quando você é uma estudante universitária dura, essa palavra exerce um poder fantástico sobre a sua vida – resolvi ir e levar de quebra o meu então namorado e hoje marido “a tira colo”. Se fosse um fiasco, pelo menos a gente ia ter muito assunto na platéia, tirando um sarro com a cara dos caras, mas tudo com muito respeito pelo profissional, sem rir alto. É lógico!

Minha cara metade não ficou muito satisfeito em acompanhar, já tava de “saco cheio” de tanto teatro do oprimido que ele já tinha visto, arrastado por mim, claro; sempre “free”, claro; e sempre muito divertido...embora teatro do oprimido não deva ser divertido! Foi assim que eu criei um gosto especial em ver filmes ruins, eles rendem muito mais comentários e gargalhadas que os bons, e, geralmente, as sessões são mais baratas (alguém já viu O Matador do Almodóvar – eu amo Almodóvar, mas O Matador...é de matar...). O que na época para mim era uma boa opção, hoje é apenas um estilo de vida...rsrsrsrsrs!!!!

Foi ali, que eu me apaixonei pela terceira vez pela poesia – a primeira, foi quando eu conheci a poesia de Fernando Pessoa, pessoal e intransferível; a segunda quando deparei com uma exposição no CCBB sobre Mário Quintana, uma das exposições mais lindas que eu lembro de ter visto, Mario Quintana consegue tocar a sua alma de uma forma que só Drumonnd vai fazer parecido; se bem que eu cresci ouvindo Vinícius...tá, talvez não tenha sido exatamente uma terceira paixão, mas foi algo divino, um momento sublime. Meu namorado, hoje marido, saiu extasiado com o que tinha assistido e, dando graças a Deus por ter sido degustativo e não constrangedor.

A parti dali comecei a ler tudo o que ela tinha escrito, embora só tenha um livro, que eu ganhei de uma superamiga e, por isso, ele tem ainda mais valor. Consegui emprestados quase todos senão todos os que ela já escreveu, além dos CDs que são muito bons.

Dá uma olhada nisso e vê se não é tudo...



Aviso da lua que menstrua

Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

O semelhante, Editora Record, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Ordinary World

É estranho pensar em como projetamos sempre grandes coisas para o futuro quando somos muito jovens (digo muito jovens porque eu ainda sou jovem). Quando somos adolescentes estamos cheios de certezas e virtudes que achamos que temos.
Assisti a uma pregação no início da semana que falava sobre Sócrates, que estudou tanto e que no fim declarou: “só sei que nada sei”; assim como Paulo que no inicio se achava o maior dos apóstolos e no fim, o maior dos pecadores.
Como a natureza humana tende ao exagero no inicio da vida e, a uma extrema e sofisticada simplicidade quando o tempo passa. A ponto de idosos que habitam entre nós se tornarem verdadeiros sábios diante da imbecilidade presente, marca registrada nos dias de hoje.
É claro que me considero muito mais madura hoje que a dez, doze anos atrás, quando estava cheia das minhas certezas (ainda tenho um pouco delas e sei que cairão por terra uma a uma com o passar do tempo), assim como me acho muito mais bonita hoje – mais consciente do meu corpo e daquilo que sou, como mulher e como pessoa.
Porém, fatos recentes têm colocado minha cabeça pra funcionar loucamente nos últimos dias.
Por que quando não vemos as pessoas há muito tempo tendemos a imaginar que todas viraram astros pop menos nós? Porque tudo aquilo que acontece com o outro parece ser mais extraordinário do que o que acontece conosco? E, como a vida do outro parece ser tão deslumbrante à distância!!!! Como algumas pessoas que se reencontram parecem nunca ter se separado...tudo tá ali, tão presente, tão intimo; e como outras pessoas parecem nunca ter feito parte do mesmo mundo quando ficam exatamente o mesmo tempo sem se ver.
Pude experimentar o doce e o azedo nos últimos dias e ver como a vida desconstrói as nossas certezas, uma a uma, com o passar do tempo. Como tudo o que parece glamuroso, no fim é só trabalho; como toda felicidade alheia foi construída as custas de muita dedicação; que no fundo somos todos personagens de uma mesma história sem protagonistas, só que as vezes aparecendo em capítulos diferentes...tudo aquilo que parece tão deslumbrante a distância, é apenas vida real sendo construída quando perfuramos a nata superficial que é distância e o tempo.
Ninguém virou astro pop...nem casou no castelo da Chantilly...nem está anos-luz na sua frente profissionalmente falando...estamos todos no mesmo barco...rumando por caminhos diferentes...para nos encontrarmos em algumas paradas mais a frente...ou não...

Nietzsche tinha razão quando disse:

“Não há fatos eternos, como não há verdades absolutas”.