quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Eu amo Elisa Lucinda

Eu amo a Elisa Lucinda...e o trabalho dela!

Não amo a pessoa que me apresentou a poesia dela – sujeitinho sem caráter e ladrão de idéias ( se é que não fica muito politicamente incorreto chamar alguém de ladrão assim... publicamente, se bem que nomes não foram citados, ainda...) porém, os fins justificam os meios e na época eu não sabia que ele era assim (se bem que ele sempre foi um cara muito ESQUISITO, se é que vocês me entendem...ai, que vontade de colocar o nome do safado na roda...mas deixa isso pra depois...)

A primeira vez que fui apresentada a uma apresentação dela...redundante, eu sei, mas é para soar assim mesmo...eu sai deslumbrada com aquela mulher linda e com uma presença de palco que coloca muito ator no chinelo (incluindo meu COLEGUINHA em questão...as pistas estão no ar hein!!!), recitando poesia de uma forma que eu nunca tinha visto antes. Era uma coisa performática sem parecer piegas, coisa difícil quando se fala em poesia. Você ler é uma coisa, agora ter que ouvir alguém lendo pra você, vamos combinar que é um tanto deprimente! Aquela entonação cafona no ar é demais pra mim!

Confesso que compareci meio que com o pé atrás na apresentação – mas como era “free” e, quando você é uma estudante universitária dura, essa palavra exerce um poder fantástico sobre a sua vida – resolvi ir e levar de quebra o meu então namorado e hoje marido “a tira colo”. Se fosse um fiasco, pelo menos a gente ia ter muito assunto na platéia, tirando um sarro com a cara dos caras, mas tudo com muito respeito pelo profissional, sem rir alto. É lógico!

Minha cara metade não ficou muito satisfeito em acompanhar, já tava de “saco cheio” de tanto teatro do oprimido que ele já tinha visto, arrastado por mim, claro; sempre “free”, claro; e sempre muito divertido...embora teatro do oprimido não deva ser divertido! Foi assim que eu criei um gosto especial em ver filmes ruins, eles rendem muito mais comentários e gargalhadas que os bons, e, geralmente, as sessões são mais baratas (alguém já viu O Matador do Almodóvar – eu amo Almodóvar, mas O Matador...é de matar...). O que na época para mim era uma boa opção, hoje é apenas um estilo de vida...rsrsrsrsrs!!!!

Foi ali, que eu me apaixonei pela terceira vez pela poesia – a primeira, foi quando eu conheci a poesia de Fernando Pessoa, pessoal e intransferível; a segunda quando deparei com uma exposição no CCBB sobre Mário Quintana, uma das exposições mais lindas que eu lembro de ter visto, Mario Quintana consegue tocar a sua alma de uma forma que só Drumonnd vai fazer parecido; se bem que eu cresci ouvindo Vinícius...tá, talvez não tenha sido exatamente uma terceira paixão, mas foi algo divino, um momento sublime. Meu namorado, hoje marido, saiu extasiado com o que tinha assistido e, dando graças a Deus por ter sido degustativo e não constrangedor.

A parti dali comecei a ler tudo o que ela tinha escrito, embora só tenha um livro, que eu ganhei de uma superamiga e, por isso, ele tem ainda mais valor. Consegui emprestados quase todos senão todos os que ela já escreveu, além dos CDs que são muito bons.

Dá uma olhada nisso e vê se não é tudo...



Aviso da lua que menstrua

Elisa Lucinda

Moço, cuidado com ela!
Há que se ter cautela com esta gente que menstrua...
Imagine uma cachoeira às avessas:
cada ato que faz, o corpo confessa.
Cuidado, moço
às vezes parece erva, parece hera
cuidado com essa gente que gera
essa gente que se metamorfoseia
metade legível, metade sereia.
Barriga cresce, explode humanidades
e ainda volta pro lugar que é o mesmo lugar
mas é outro lugar, aí é que está:
cada palavra dita, antes de dizer, homem, reflita..
Sua boca maldita não sabe que cada palavra é ingrediente
que vai cair no mesmo planeta panela.
Cuidado com cada letra que manda pra ela!
Tá acostumada a viver por dentro,
transforma fato em elemento
a tudo refoga, ferve, frita
ainda sangra tudo no próximo mês.
Cuidado moço, quando cê pensa que escapou
é que chegou a sua vez!
Porque sou muito sua amiga
é que tô falando na "vera"
conheço cada uma, além de ser uma delas.
Você que saiu da fresta dela
delicada força quando voltar a ela.
Não vá sem ser convidado
ou sem os devidos cortejos..
Às vezes pela ponte de um beijo
já se alcança a "cidade secreta"
a Atlântida perdida.
Outras vezes várias metidas e mais se afasta dela.
Cuidado, moço, por você ter uma cobra entre as pernas
cai na condição de ser displicente
diante da própria serpente
Ela é uma cobra de avental
Não despreze a meditação doméstica
É da poeira do cotidiano
que a mulher extrai filosofando
cozinhando, costurando e você chega com a mão no bolso
julgando a arte do almoço: Eca!...
Você que não sabe onde está sua cueca?
Ah, meu cão desejado
tão preocupado em rosnar, ladrar e latir
então esquece de morder devagar
esquece de saber curtir, dividir.
E aí quando quer agredir
chama de vaca e galinha.
São duas dignas vizinhas do mundo daqui!
O que você tem pra falar de vaca?
O que você tem eu vou dizer e não se queixe:
VACA é sua mãe. De leite.
Vaca e galinha...
ora, não ofende. Enaltece, elogia:
comparando rainha com rainha
óvulo, ovo e leite
pensando que está agredindo
que tá falando palavrão imundo.
Tá, não, homem.
Tá citando o princípio do mundo!

O semelhante, Editora Record, 1998 - Rio de Janeiro, Brasil

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